Gigante do agro de Minas Gerais pede recuperação judicial com dívidas de R$ 2,13 bilhões
- Equipe - EmpresaemCrise.com
- 8 de mar.
- 3 min de leitura

O agronegócio brasileiro acaba de registrar mais um capítulo turbulento com o pedido de recuperação judicial de um dos maiores grupos do setor cafeeiro. A Atlântica Exportação e Importação, Cafebras, Montesanto Tavares Group Participações e Companhia Mineira de Investimento em Cafés, empresas ligadas ao Grupo Montesanto Tavares, entraram na Justiça para tentar reestruturar um passivo bilionário que já ultrapassa R$ 2,13 bilhões.
O Grupo Montesanto Tavares é um dos gigantes do mercado de café, sendo responsável por 8% das vendas de café arábica do Brasil para o exterior. Com operações globais e uma extensa rede de produtores parceiros, a empresa vinha enfrentando desafios financeiros significativos nos últimos anos, o que culminou na decisão de buscar proteção judicial para evitar um colapso definitivo.
Por que a recuperação judicial foi inevitável?
O pedido de recuperação judicial tem como base uma série de dificuldades financeiras enfrentadas pelo grupo nos últimos anos. Entre os principais fatores que levaram à crise, destacam-se:
Alta explosiva nos preços do café: Nos últimos 12 meses, o preço do café arábica disparou mais de 120%, tornando a operação dos exportadores muito mais cara e imprevisível.
Desvalorização do real frente ao dólar: Como grande parte dos custos e das receitas do grupo estão atrelados ao mercado internacional, a queda do real pressionou ainda mais o caixa da empresa, com destaque especial as "chamadas de margem" dos contratos de swap.
Inadimplência dos produtores: Pequenos e médios cafeicultores que fornecem para o grupo tiveram dificuldades financeiras e atrasaram pagamentos, afetando o fluxo de caixa da empresa.
Renegociação de contratos: A necessidade de prorrogar prazos de entrega e renegociar contratos com fornecedores e credores gerou um efeito cascata, agravando a situação financeira.
Impacto na cadeia produtiva do café
A crise do Grupo Montesanto Tavares não afeta apenas a empresa, mas toda a cadeia produtiva do café. Com uma rede de mais de 2 mil produtores, o colapso da companhia pode desencadear uma reação em cadeia no setor.
Em novembro de 2024, a empresa já havia tentado negociar suas dívidas diretamente com os credores, buscando um alívio financeiro. No entanto, com a persistente alta nos preços do café e a crescente dificuldade de obter crédito, o pedido de recuperação judicial tornou-se a única alternativa viável.
Os números da crise
Em 2023, o grupo movimentou cerca de 166,3 mil toneladas de café, exportando para 58 países. A receita da Cafebras no ano passado foi de R$ 999,5 milhões, com lucro de R$ 20,2 milhões. Já a Atlântica, embora tenha registrado receita de R$ 1,61 bilhão, amargou um prejuízo de R$ 42,4 milhões.
As dificuldades começaram ainda na safra 2021/22, quando eventos climáticos severos – como seca, geada e granizo – devastaram lavouras no sul de Minas Gerais. Muitos produtores não conseguiram entregar a produção já contratada pelo grupo, forçando a empresa a comprar café no mercado físico a preços muito mais altos para honrar os acordos de exportação. Para cobrir essas despesas, o grupo recorreu a financiamentos bancários, o que aumentou ainda mais seu endividamento.
A situação ficou ainda mais complicada em 2024, quando os preços internacionais do café dispararam e o real se desvalorizou frente ao dólar. Com isso, a empresa passou a sofrer constantes chamadas de margem de bancos e corretoras, exigindo capital imediato para cobrir as oscilações do mercado.
Atualmente, dos R$ 2,13 bilhões em dívidas do grupo, R$ 1,4 bilhão é devido a bancos e corretoras. Entre os principais credores estão instituições como Cargill, Banco do Brasil, Santander, Safra, Bradesco, BTG Pactual e Itaú Unibanco.
O que esperar daqui para frente?
Com o pedido de recuperação judicial, o Grupo Montesanto Tavares busca um fôlego financeiro para renegociar suas dívidas e tentar retomar a estabilidade. No entanto, o sucesso desse processo dependerá de vários fatores, incluindo a aceitação dos credores às novas condições propostas e a capacidade da empresa de reestruturar sua operação sem comprometer ainda mais sua atuação no mercado.
O caso levanta um alerta para todo o setor cafeeiro, evidenciando como oscilações no mercado global e problemas climáticos podem impactar diretamente empresas de grande porte, colocando em risco não apenas seus negócios, mas toda a cadeia produtiva do café no Brasil. Agora, resta acompanhar os desdobramentos da recuperação judicial e os impactos dessa crise em um dos setores mais tradicionais da economia nacional.
Acesse a lista de credores informada pelas empresas no link abaixo:
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